Para maia tarde recordar!
Na cauda do cometa
- por VIRIATO SOROMENHO MARQUES07 agosto 2014 in DN
Todos gostaríamos que o caso BES/GES estivesse resolvido, com o maior grau de
justiça e o menor dano possíveis. Mas não está. Em primeiro lugar, é falso dizer
que os contribuintes estão a salvo. O empréstimo de 4,4 mil milhões de euros,
facultado ao Fundo de Resolução, único acionista do Novo Banco, é dinheiro
público, contabilizado na dívida pública. Só quando o empréstimo e respetivos
juros forem saldados se poderá dizer que os contribuintes estão a salvo.
Fazê-lo, agora, é confundir governação com propaganda. Segunda questão. O
recurso à legislação europeia, ainda a cheirar a tinta fresca, não resolve o
problema do golpe brutal acometido por este caso na credibilidade das
instituições. A conformidade à legalidade formal (quid juris) não colmata a
lesão da justiça (quid jus). O que pensarão os acionistas que acorreram à última
OPV do BES, sancionada pela CMVM, e que terminou "ontem", em 16 de junho, com
rateio? Se existiam suspeitas sérias do BdP, desde outubro de 2013, como foi
possível autorizar esta operação? Terceiro ponto. Estamos ainda longe de
conhecer os impactos totais do colapso do "banco mau" e dos seus milhares de
acionistas e obrigacionistas. Não me refiro só à miríade de processos judiciais
que se antecipa, mas também às empresas expostas ao grupo BES/ /GES que sofrerão
danos colaterais, alguns letais, no futuro próximo. Em quarto lugar, ninguém
notou entusiasmo da parte dos bancos a atuar em Portugal com o bail in a que
foram obrigados pela decisão encontrada em 48 horas. Concluindo: tudo isto
esconde o essencial do drama europeu, de que este caso nacional é uma mera
faceta: construímos uma UEM sem acautelar politicamente os riscos de miséria
moral do capitalismo financeiro. Adiando as duras e necessárias reformas
europeias, corremos o risco de desaguar num puro e simples capitalismo de
miséria material.
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